Aprenda sobre as Estratégias de Investimentos


E no texto deste mês vamos analisar algumas estratégias de investimento e compará-las. Esse exercício é bastante útil, já que “importamos” muito know-how estrangeiro de grandes players e gestores que operam em outros mercados bem diferentes do nosso.

O mercado brasileiro possui algumas peculiaridades que o diferencia dos outros. Portanto, muitas estratégias que funcionam no exterior podem ser inadequadas por aqui. O Brasil tem a maior taxa de juros (real) do planeta, o que faz com que o custo de oportunidade e carregamento de uma posição em nosso mercado sejam muito altos.

Principais Estrategias de Investimentos

O megainvestidor Warren  Buffett, conhecido e admirado no mundo todo, investe em ações com base nos fundamentos das empresas. Ele busca companhias que tenham uma boa administração, um bom modelo de negócio, crescimento nos lucros consistente, vantagem competitiva, baixo endividamento e que, obviamente, estejam sendo negociadas abaixo de seu “valor intrínseco”.  Sem analisar nos gráficos os padrões de comportamento dos preços (análise técnica); e sem levar em consideração dados macroeconômicos, como: taxa de juros, inflação, nível de emprego, PIB, balança comercial, e por aí vai.

Quando Buffett compra ações de uma determinada empresa, ele costuma manter a posição por um prazo mínimo de 10 anos. Essa é uma estratégia de “longo prazo”, conhecida como “buy and hold” (comprar e carregar). Logo, Buffett não está preocupado com tendências de curto e médio prazo, que podem ser identificadas nos gráficos e na leitura do cenário macro. Entretanto, com a ajuda dessas duas ferramentas, o investidor pode avaliar se os preços das ações estão numa tendência de alta ou de baixa. O que na minha opinião é bem importante, já que algumas estratégias funcionam em mercados altistas e outras em mercados baixistas. Num mercado baixista, a cotação das ações despenca – tanto das empresas ruins, quanto das boas – os preços são afetados de maneira geral. Existe um ditado – que ilustra muito bem esse contexto – que diz: “o barato de hoje, pode ser o caro de amanhã”. Porque nunca se sabe onde é o “fundo”, isto é, quanto mais o mercado pode cair ou quando vai parar de cair.

Warren Buffett não se preocupa com isso. Você pode adotar esse tipo de estratégia? Sim, pode. Mas, sem analisar o cenário macro e utilizar a ajuda de algumas ferramentas de análise gráfica, você estará sujeito a montar novas posições em mercados baixistas (preço de ações declinantes) e amargar grandes desvalorizações nesses papéis (ainda que sejam de excelentes empresas) durante anos, para que, então, o mercado volte a subir. Vale lembrar que o Japão, Estados Unidos e grande parte da Europa têm taxa de juros real negativa. Considerando que estamos no Brasil e que a nossa taxa de juros real de 5,5% ao ano é a maior do mundo, o custo de oportunidade e carregamento das posições, como já foi dito, é alto.

Portanto, se você quiser obter bons retornos em meses ao invés de 10 anos, faz todo o sentido combinar o método do Buffett para a escolha das ações (baseado na análise fundamentalista), com estratégias mais dinâmicas como, por exemplo, as utilizadas pelos gurus George Soros e Victor Sperandeo – ferramentas de análise gráfica e análise de cenário macro.

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Para facilitar o entendimento, vamos utilizar dois exemplos para ilustrar o raciocínio, o “Chart X” e o “Chart Y“. Com base nas premissas de Buffett, escolhemos uma empresa listada em Cingapura, a Goodpack, cujo valor intrínseco é de $2,20. Para calcularmos o valor intrínseco de um ativo, utilizamos o método do fluxo de caixa descontado, cujo conceito é bastante simples: estimar os lucros futuros de uma empresa e trazê-los a valor presente. O “valor justo” de uma ação também pode ser estimado através do fluxo de dividendos descontados, o conceito é similar: uma ação vale o valor presente de todos os dividendos que pagará no futuro.

Observe o “Chart X“, abaixo. Seguindo a metodologia do Buffett  (comprar ações de boas companhias quando estiverem sub-avaliadas), um investidor poderia ter montado uma posição no ponto A (comprando os papéis bem abaixo de seu valor intrínseco, a $1,60). Contudo, seis meses depois o sentimento de pessimismo foi dominante e o preço das ações derreteram, caindo para $0,60, ponto B. Nada impede que uma ação que está barata, fique ainda mais barata! O investidor adepto de uma estratégia “buy and hold”, que estava comprado a $1,60, teve que esperar 1,5 anos para que o preço voltasse a $1,60. Ou seja, 1,5 anos para ficar no zero a zero, ponto C. Após seis meses do ponto C, o investidor teria finalmente obtido lucro no investimento, quando o papel bateu o seu “valor justo”, $2,20. O que demonstra que essa é uma estratégia que pode demorar muito tempo para performar.

Estratégias de Investimentos

Escolhemos uma empresa fora do Brasil, em Cingapura, onde a taxa de juros real é de -5,4% ao ano (a segunda menor do mundo), para que o fator  “taxa de juros” não fosse considerado em nossa análise, o que poderia complicar ainda mais a situação. Imagine o capital que foi investido em ações, remunerado por quase 2 anos de Selic …

Agora, vamos observar o “Chart Y“, abaixo. Regra de ouro do mercado: nunca compre ações num mercado baixista. Para aqueles que estão com a pulga atrás da orelha, a resposta é um redondo não! Também não devemos fazer preço médio durante uma tendência de baixa!

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O investidor deve esperar por um sinal de reversão de tendência, isto é, aguardar por um mercado altista, para então, voltar as compras. Quando o mercado está em tendência de baixa, nunca sabemos quão mais barato ele vai ficar.

Existe uma ferramenta estatística bastante utilizada na análise gráfica chamada “média móvel“, representada pela linha vermelha no “Chart Y“. Um ativo está em tendência de baixa, quando rompe a média móvel de 200 dias (MM200) para baixo. E é considerado em tendência de alta, quando rompe a média móvel de 200 dias (MM200) para cima.

A média móvel é um rastreador de tendência, sendo o indicador mais popular e mais antigo da análise técnica. Para análises de longo prazo utiliza-se a média móvel de 200 dias (39 semanas), pois empiricamente esse prazo se mostrou mais eficaz.

A tendência de alta ou de baixa pode ainda ser confirmada pela análise macroeconômica, que pode ser favorável ou desfavorável.

O investidor que detém este conhecimento, jamais teria montado uma posição durante uma tendência de baixa, ao preço de $1,60. Teria aguardado uma reversão de tendência e entrado no novo ponto A, a $1,00, quando a média móvel de 200 dias (MM200) foi rompida para cima. E teria vendido sua posição no novo ponto B, a $1,90, quando a média móvel de 200 dias (MM200) foi rompida para baixo. O que resultaria num retorno de aproximadamente 90% em apenas 15 meses.

Vamos utilizar um prazo mais longo em nossa próxima análise? Observe no “Chart Z“, abaixo. Uma estratégia “buy and hold” teria produzido um retorno de 20% em 12 anos, se tivéssemos comprado o Índice Dow Jones no início do período e carregado até 2011.

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Analisando o mesmo período, porém, agora utilizando a ajuda da média móvel de 200 dias (MM200), poderíamos ter obtido 75% de retorno. Conforme ilustra o “Chart W“.

 

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O objetivo aqui não é comprovar a supremacia da análise fundamentalista ou da análise técnica. Mas, observar que as crises ficaram mais freqüentes, o que trouxe mais volatilidade para os mercados, e conseqüentemente, maiores chances de entradas e saídas. A junção da análise fundamentalista (para a escolha do ativo) e da análise técnica e macroeconômica (para o timing de entrada / saída) pode nos proporcionar melhores resultados.

Por fim, para ser um investidor de sucesso, você deve ser um curioso. Estar faminto por conhecimento. Aprender com a experiência dos outros. Testar, questionar. E acima de tudo, nunca seguir cegamente nenhum guru, mas sim, criar suas próprias estratégias. Estratégias são como impressões digitais, cada um deve ter as suas.

Perguntas, comentários, sugestões através do Twitter: @eugenioinvest

 

(foto) Cláudia Augelli – Estrategista de Investimentos. Sócio fundadora da Eugênio Invest e agente autônoma de investimentos certificada pela CVM. Possui especialização em Finanças (Yale School of Management) e em Corporate Finance (New York University). MBA em Mercado de Capitais e Derivativos pela BM&F. Graduou-se com honras em Administração. É palestrante e professora de Finanças e Gestão de Custos no Ibmec. Possui mais de 18 anos de experiência atuando em mercado financeiro, nos bancos Credit Commercial de France (CCF), Banque Nationale de Paris (New York), Banco Garantia, Credit Suisse First Boston (CSFB), Bear Stearns (London) e Banco Fator;  nas áreas de Tesouraria, Administração de Recursos, Research e Sales / Sales Trading. Também ocupou a posição de Gerente Financeiro na Parmalat Participações.

 

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